O tema Autoconhecimento no âmbito das organizações voltado para gestores e líderes está em destaque nas grandes organizações. As organizações estão sendo forçadas a otimizarem o desempenho de seus colaboradores requerendo líderes mais flexíveis, inovadores, inteligentes emocionalmente, que saibam comunicar-se, delegar, lidar com mudanças, lidar com as adversidades e principalmente ter habilidades nos relacionamentos promovendo e sustentando cada dimensão da relação intrapessoal e interpessoal. A receita dos grandes mestres para aquisição das qualidades citadas são inúmeras e, entre todas está o Autoconhecimento.

Autoconhecimento é um tema antigo. O “Conhece-te a ti mesmo”, pedra-angular da filosofia de Sócrates considerado o modelo dos filósofos caracterizava-se por sua postura crítica e questionadora, cuja tarefa continua sendo a mais difícil para cada um de nós. Se a pergunta nos impulsiona para a resposta então o trabalho com o autoconhecimento poderia iniciar com as seguintes questões: Como lido comigo?; Como lido com o mundo?; Como lido com o outro? A partir dos questionamentos acrescentamos: O que nós sabemos?; O que nós não sabemos?; O que poderemos saber? A busca pelas respostas poderá nos levar a percepção do dinamismo do todo e descobrir o que está emergindo.

Ao iniciar a busca pelo autoconhecimento, o líder irá entender melhor a si mesmo, seus comportamentos e também o comportamento de seus liderados, parceiros e colaboradores contribuindo com os resultados da organização. Para Covey et al. (2002), escritor estadunidense e autor de best-seller, considera que saltos quânticos serão possíveis apenas quando virmos os indivíduos como pessoas integrais – dotadas de corpo, mente, coração e espírito e quando a liderança for exercida como arte capacitante.

Warren Bennis (2010), psicólogo, conselheiro de quatro presidentes norte- americanos e um dos profetas da liderança se refere o autoconhecimento como um dos ingredientes básicos da liderança e a importância da auto percepção sobre si, defeitos e qualidades. Bennis também comenta que há algo no pensar dos líderes que mobiliza o agir e que contribui com todos os outros elementos necessários para os desenvolvimento da liderança.

Observo que um dos aspectos primordiais para o desenvolvimento de um líder é compreender o seu desenvolvimento como ser humano. Sua forma individual de pensar, sentir e agir no mundo. Compreender sua história de vida, suas dons recebidos pela hereditariedade e suas dificuldades, ou seja, desafios de desenvolvimento. Conhecer os seus impulsos, emoções, seus valores, suas habilidades, potencialidades, entender o seu perfil comportamental e limites. Muitas vezes esta compreensão chega ao profissional através de cursos rápidos de forma parcializada ou até fragmentada ocasionando o não reconhecimento e consequentemente não há empoderamento ou auto transformação.

Um trabalho que tem contribuído muito com o desenvolvimento dos líderes é o Processo Biográfico. É um trabalho de revisão de toda a história de vida observando a si e os fatos de forma ordenada, balizados nas fases de desenvolvimento humano de Rudolf Steiner.

A fase entre 0 à 21 anos é a fase do amadurecer do pensar, sentir e agir; do aprender a partir da família, da escola e dos amigos. A partir dos 21 anos o ser humano irá vivenciar este mundo, aprimorar suas habilidades, mas traz grandes desafios que é autoeducação, equilibrar passado e presente e integrar coração e emoção. A partir dos 42 irá desenvolver seu pensar, sentir e agir próprios e também colher os frutos daquilo que plantou até então, para que adiante, em sua idade mais sênior possa distribuir ao mundo suas experiências como bênçãos àqueles mais jovens.

Biografia e desenvolvimento profissional não podem ser analisados separadamente. Somos únicos e singulares. A condição deste desenvolvimento, das oportunidades de aprendizado e grau de realização profissional e pessoal depende a qualidade de vida. A magnitude e nível de integração e convivência com os familiares e amigos depende a nossa harmonia interior.

O ser humano vive, interage com outros seres humanos. A soma dos encontros e desencontros, das emoções, ações ou omissões de experiências ao longo da vida contribuiu na formação e transformação do momento presente.

Bennis aborda que a biografia é a cédula onde está registrado o patrimônio existencial de cada um. Assim, tomar conhecimento sobre si, como se desenvolveu a infância, seu desenvolvimento biológico, psicológico como seres espirituais no caminho do aprendizado é abrir portas para atuação mais conscientes sobre si mesmo e contribuir efetivamente com seu legado no processo da vida.

O líder partir de uma visão ampliada de si, sua história, seus limites e dificuldades, estará mais aberto para compreender os integrantes de sua equipe, suas necessidades e dificuldades e assim contribuir com o desenvolvimento de cada um no caminho da excelência.

 


BENNIS, Warren. A essência do líder: o grande clássico de liderança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010
BURKHARD, Gundrun. Biográficos: estudos da biografia humana. 2ª ed. rev. São Paulo: Antroposófica, 2006
COVEY, Stephen R. Liderança baseada em princípios. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002